sábado, 6 de dezembro de 2014

Reflexões da mesa "Agroecologia, educação e luta de classe"

Ritual com toré e tabaco com Cacique Nailton e Dona Maria

Mística com os povos de quilombo encenando o histórico de
opressão e libertação do povo negro no Brasil
  
MESA

Sayô Adinkra
  
“Como podemos construir um movimento agroecológico que perceba que a luta pelo território não é só no campo? Que também precisamos lutar pela dignidade nos territórios urbanos de periferia, para que eles comunguem com a defesa do território rural.” 



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Cacique Babau

“Morra em pé, mas não morra ajoelhado. Enquanto tiver um tupinambá de pé, nós vamos lutar, pois os que recuaram morreram.”

“A questão agroecológica é algo que nós indígenas sempre 'viveu'. Até os portugueses chegarem a gente vivia uma relação íntima e harmônica com a natureza. Quando víamos que um lugar estava saturado pelo povoamento, saíamos para outro espaço para deixar o lugar onde estávamos se recuperar. Depois, começamos a cultivar plantas para melhorar a rotatividade e respeitar a Mãe Terra. Os portugueses que chegaram tentaram forçar nossa rendição e a perda dos nossos costumes.”

“A educação de hoje é uma lavagem cerebral para que ninguém se sinta índio, negro e brasileiro. Eu não aceito essa educação perpetuada com discriminação e destruição. A Universidade tem que ser tomada e dada a quem sabe o que é educação, a ensinar o que é nosso.” 



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Ademar Bogo

“Classe é uma construção coletiva."

"A vontade é uma força que mora dentro de cada coisa, viva ou morta. Vontade do conhecimento, da consciência. Ninguém tem vontade de desaprender.”

“Existem três questões importantes para a luta da Agroecologia: não se desligar do conflito, da educação e da nossa associação enquanto humanos.”

Zines coletivos produzidos na III Jornada

Durante o segundo dia de III Jornada, foi realizada uma oficina sobre Zines e Comunicação Livre. Os zines são publicações artesanais e independentes, de livre reprodução, bastante usadas pelo movimento punk e movimentos sociais pelo mundo. É uma forma barata, autônoma e eficaz de compartilhar informações. Pela tradição, quem recebe um zine pode e tem a missão de xerocar, reproduzir e passar adiante essa ideia de multiplicar a comunicação livre. Importante também para a autonomia é a ideia de que o zine pode ser feito por qualquer pessoa. Não precisa ser especialista em design, desenho, texto ou usar programas de computador. A linguagem e o modo de fazer são livres. Você pode usar colagens, poesias, frases soltas e curtas, ou também textos longos. Você escolhe, você faz do seu jeito!

Na oficina realizada na Jornada, foram produzidos três zines: A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas; A Jornada de Agroecologia; e Sementes Crioulas. Baixe, reproduza e passe adiante.

Todos os zine estão disponíveis para baixar no Baobáxia.


VERSÕES DIRETA PARA BAIXAR

- Sementes Crioulas (Frente)
- Sementes Crioulas (Verso)
- A Jornada de Agroecologia (Frente)
- A Jornada de Agroecologia (Verso)
-  A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Capa e Verso)
A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Pag. 2 e 7)
A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Pag. 4 e 5)
A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Pagina 3 e 6)




VERSÕES PARA VISUALIZAÇÃO


  A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas 







A Jornada de Agroecologia da Bahia






Sementes Crioulas




Reflexões do 2º dia de Jornada

A mesa do segundo dia de III Jornada, realizada na sexta-feira (05/12), teve como tema Sementes, ciência e tecnologia para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade. As falas que embasaram o diálogo foram da Cacica Maria Muniz (Pataxó rã rã rãe), de Joelson Ferreira (Assentamento Terra Vista) e da professora Maria Aparecida (UFBA). À tarde, a Jornada seguiu com as oficinas, mini-cursos, feira de economia solidária e a 1ª Troca Troca de Sementes Crioulas. À noite foi voltada às celebrações culturais entre todos os povos presentes.




Mesa

A Cacica Maria inicia a mesa apresentando o livro que está em construção com mulheres indígenas de sua comunidade. Com a frase “semear cantando”, conta experiências sobre a produção em mutirão que ocorreu em seu território, integrando indígenas, assentados e quilombolas, trazendo a percepção da terra como símbolo de fertilidade e do trabalho coletivo em ritual, com cantorias tradicionais como torés. Em seguida, convoca a juventude para lutar “ombro a ombro” com o povo, refletindo sobre ideologias de desunião e sobre o mau uso de tecnologias que nos afastam da vivência. Finaliza sua fala com cânticos de força. 

A professora Maria Aparecida, da UFBA, contou a lenda do surgimento da agricultura a partir das mulheres, que destrincha a trajetória histórica das sementes como base da humanidade: “As sementes tem material genético, são a essência da vida, ou seja, são embriões”. Fez um breve histórico sobre a Revolução Verde, que disseminou a produção em massa de alimentos e agrotóxicos. Em contraponto, comentou sobre o surgimento do princípio da Agroecologia, nos anos 70. Apontou a agroecologia e as sementes crioulas como caminho para a efetividade da soberania alimentar: “Não se pode utilizar 100% das sementes. É preciso manejo sustentável, guardar uma parte para as produções futuras”. 

Joelson Ferreira, do Assentamento Terra Vista, apresentou o trabalho de uma cooperativa do MST no Rio Grande do Sul, chamada Bionatur, que produz sementes orgânicas para comercialização. A partir dessa experiência, lembrou que as sementes não são patrimônio das empresas que buscam controlar a nossa produção de alimentos, como a Monsanto e a Bayer. “Estamos com a riqueza nas mãos, agora é preciso cuidar delas”, indica Joelson ao lembrar da importância das trocas de sementes para a manutenção da produção e do cuidado com a terra, criando condições para chegarmos a soberania do povo. 

Joelson lembrou que as sementes modificadas são dependentes de veneno e os alimentos proveniente delas agem da mesma forma no nosso organismo, gerando doenças. Ressaltou que as mulheres sempre foram as guardiãs das sementes crioulas e sugere nossa tarefa: “Que cada um e cada uma se transforme em plantadores, cuidadores e semeadores de sementes. Se não tiver espaço para a produção, doe para alguém continuar o trabalho. Para isso, é preciso primeiramente acabar com a capitalismo e conscientizar o povo das cidades sobre a necessidade de voltar à terra, evitando que nosso povo morra nas periferias”. 

Ao final, Joélson convida o Mestre TC para explicar o significado do Baobá como árvore sagrada e ancestral no território africano. TC complementa indicando a necessidade de compreendermos que nós, seres humanos, semeamos valores junto com as sementes, porque também somos patrimônio da terra. “Precisamos ser boas sementes, tendo a generosidade como caminho”.