segunda-feira, 24 de março de 2014

Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica - assistam!


A Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica levou mais de 400 pessoas para a convivencia e troca de conhecimentos com o povo Tupinambá da Serra do Padeiro entre 14 e 16 de março de 2014.
Assista um pouco da história desse povo e do compromisso de união assumido entre vários indivíduos e entidades pela democratização das terras, pela democratização dos meios de comunicação, por uma educação com a cara de nosso povo, com a agroecologia e com a História do Brasil.

Poesia - A Teia

 

Toda a história da generosidade falsa dos nossos opressores 
Não vale um dia de luz da solidariedade dos povos oprimidos. 
A mão estendida nada mais receberá 
Senão outra mão estendida 
Para construir o que se quer. 
Toda a história da generosidade falsa dos nossos opressores 
Não vale um dia de luz da solidariedade dos povos oprimidos. 
Os passos corridos não caminharão para as pedras 
Será a terra justa nosso caminho. 
O alimento dado aos que tem fome será negado 
Senão o alimento da partilha, o alimento da vida. 
A vida para os que aprenderam a amar vivendo 
Será alimento para os que têm fome não só de comida. 
Toda a história da generosidade falsa dos nossos opressores 
Não vale um dia de luz da solidariedade dos povos oprimidos. 
Os sonhos estéreis dos opressores serão de nós recolhidos 
Sonharemos com o mundo no qual as palavras 
Sejam coloridas com a tinta que transmuta 
Toda luta em sonho Todo sonho em luta. 

Magno Luiz da Costa Oliveira - Trabalhador da Educação

"A libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores ou não haverá libertação."

sexta-feira, 21 de março de 2014

Somos tod@s Cacique Babau. Entenda porque refletindo trechos de sua fala...

Os Tupinambá expulsaram do território todos os que estavam ofendendo o meio-ambiente. Os que estavam pescando com venenos e acabando com a vida do rio, os que estavam incendiando a mata. A Escola Estadual Indígena Tupinambá da Serra do Padeiro conta com 663 alunos da aldeia e da região. Há 25 nascentes no território. Devido ao cuidado e ao reflorestamento por parte dos índios, o nível da água do rio subiu dois metros e meio. Se os rios secam, os peixes não se reproduzem. Os tupinambás, reflorestando áreas degradas, deixaram a serra intacta. Na serra a cadeia alimentar está completa. Há um equilíbrio, do qual a comunidade faz parte.

Os Tupinambás não gostam de ver as pessoas humilhadas. O governo queria autorizar apenas o atendimento de pacientes indígenas no posto de saúde. Significa que se qualquer pessoa não índia necessitasse de atendimento médico no território, não poderia ter acesso. Os tupinambás não se conformaram, lutaram e hoje qualquer pessoa pode ser atendida no posto de saúde.
(...)
O Eucalipto não tem predador natural. Os desertos verdes são ambientes sem vida, sem água, sem natureza, sem o canto dos passarinhos. O eucalipto gera desequilíbrios ecológicos (pois a natureza é viva e tentará se adptar àquele meio inóspito!), como grandes pragas, que chegam a afetar a produção agrícola das circunvizinhanças.
Violência não resolve, submissão não resolve. A luta também não pode depender de dinheiro, porque se falta dinheiro vamos desistir da luta? Negra Zeferina aprendeu a guerrear com os tupinambás. Sempre quando estava para ter uma guerra, se fazia muita farinha, para que ninguém passasse fome, mesmo que passassem por outras necessidades. Os índios não podem ficar dependendo de FUNAI para fazer as coisas. A FUNAI não funciona e é feita para não funcionar.
O povo tem que ter inserção nas questões públicas. Podemos fazer as coisas localmente. Aquilo que é bem feito localmente e funciona, reverbera em todos os lugares. Temos que ter uma renda compatível para bancar a luta. É melhor se bancar. Não podemos ficar dependendo de projeto. 

Temos que revolucionar nosso querer, com garra e coragem. A força tem que ser canalizada. Temos que nos fortalecer e nos preparar para vencer. Temos que viabilizar uma forma de vida que não precise se vender, como uma espécie de corrupção. Se o movimento cuida dos seus, os seus não precisam pedir a outros, não precisam arrastar caneco e pedir esmolas.
A luta também não pode depender do ódio. Tomar raiva de outra pessoa é coisa ruim que se apossa de você. A luta não pode ser mantida pelo ódio, mas pelo amor.
Na aldeia Tupinambá não há alcoolismo, os companheiros não batem em suas companheiras (violência doméstica) e pouquíssimos fumam, nós resolvemos nossos próprios problemas, a partir da orientação dos encantados. Dissemos às igrejas evangélicas que quiseram subir a Serra do Padeiro: levem o culto para onde se precisa de Deus. Aqui nós temos Deus, temos nossa proteção, temos nossos encantados. A fé une o povo.

Precisamos confiar mais uns nos outros. A lógica imposta é de dividir para governar. Colocar movimento contra movimento, povo contra povo. Lutar por terra é lutar por poder. Não existe liberdade sem terra. Precisamos traçar uma aliança pela terra. Terra não se ganha, terra se conquista! Lutar é lutar, não é esperar que alguém seja sorteado. No futuro, devemos fazer ações com mais radicalidade e compreensão.

(Transcrição da fala do Cacique Babau na tarde do dia 14 de Março de 2014. Colaboração Camila Antero/NEPPA )

segunda-feira, 17 de março de 2014

Marcha do Povos da Cabruca e da Mata Atlântica em defesa da terra sagrada tupinambá!



Entre os dias 14 e 16 de março, a Teia Agroecológica promoveu a Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata atlântica. Essa agenda é uma consequência natural de solidariedade entre os povos pactuada a partir das Jornadas e Trechos de Agroecologia que acontecem desde 2012 no Sul da Bahia. Nesse contexto o que está em jogo é a defesa das terras sagradas Tupinambá e o enfrentamento à criminalização e militarização dessa situação onde o Estado brasileiro e a mídia tem responsabilidades diretas.

A Marcha teve como objetivo principal se solidarizar com o povo Tupinambá na sua justa e digna luta pela reconquista de suas terras, bem como proporcionar trocas de saberes e intercambiar experiências no campo da agroecologia e o fortalecimento da “Unidade das lutas” entre movimentos do campo e da cidade, mediante entendimento que a questão indígena não é um problema dos índios, mas de todo o povo brasileiro.  O encontro contou com cerca de 400 pessoas das mais diversas Entidades do Brasil, da América Latina e Europa. Na grande maioria dos participantes são trabalhadores e trabalhadoras do campo (MLT, MST, FLT, CETA, MPA), Quilombolas, povos indígenas de outras etnias.

A Marcha de solidariedade dos povos!


A caminhada iniciou-se na BR 101, a cerca de 11 km da Aldeia, por volta das 15:00h os primeiros caminhantes começavam a chegar na comunidade onde eram alegremente recepcionados. Aos poucos a aldeia foi ficado ainda mais colorida e vibrante, com faixas, cartazes e gentes das mais diversas “tribos”. O fato destoante desta alegria eram os constantes e rasantes vôos de um helicóptero do exercito brasileiro, sobre a Aldeia. Que vem ocorrendo desde quando foi emitido um dispositivo intitulado GLO (Garantia da Lei e da Ordem) acionado pelo governador do estado Jacques Wagner, e assinado pela presidente Dilma Roussef, reforçando ainda mais à ocupação militar de um território indígena já reconhecido pelo próprio estado brasileiro.


Helicópeto do exército rondando a aldeia

 Já na aldeia, os participantes puderam ter um encontro rico de saberes quando o Cacique Babau partilhou a história e a luta do povo Tupinambá de Serra do Padeiro. Alegre, determinado e fortalecido, o cacique afirmou: “temos que revolucionar o nosso querer e conquistar autonomia”, para isso, ele destacou três pontos fundamentais: a unidade na luta, o foco na conquista da terra e o fortalecimento da espiritualidade ancestral enquanto direcionadora da sabedoria que rege o movimento. E foi nesse contexto que o ritual da noite,  no comando do Cacique e de outros diversos caciques Tupinambá e Pataxó presentes, deu sentido e poder a este encontro.

Cacique Babau: um alegre, humano e determinado estrategista!

Assembléia de debates

No início do segundo dia, uma pequena assembléia foi realizada em volta da fogueira, onde mais uma vez o Cacique agradecia a presença de todos e todas, valorizando a representação das diversas entidades e chamando a atenção para que a gente “tire os espinhos, as ramas e aumente as picadinhas” para que um grande caminho se abra para nós e para os que virão para a luta, para agregar e aprender a conviver juntos. Em seguida, os grupos foram organizados em torno dos trabalhos do campo: a farinhada, o plantio do milho, cacau e a compostagem.

Após os trabalhos de campo, uma análise de conjuntura foi feita para se estruturar uma agenda positiva de lutas da solidariedade dos povos. Em seguida uma confraternização em torno da fogueira com toré e capoeira concluíram mais um importante dia da programação.


Vivências no campo: práticas e sentidos do viver agroecológico,

Plantio do baobá: poder, resistencia e solidariedade

No domingo, múltiplas vivências ocorreram ao mesmo tempo, a farinhada continuou com muitos colaboradores no trabalho de torrar a farinha e na animação das cantigas e sambas; o plantio do milho e das mudas; banho de rio; o ritual de plantio do baobá e as ultimas conversas entre as lideranças fecharam essa tão especial agenda que permitiu reforçar um movimento de unificação de agendas e apoio recíproco numa resistência rebelde para REEXISTIR DIGNIDADE DOS POVOS!